RECRUTAS E ORGIAS Coronel do Exército é suspeito de promover orgias com soldados
Quando trabalhava como técnica de enfermagem no Hospital Militar de Marabá, em 2009, Rubenice Nazaré denunciou um esquema de orgias homossexuais chefiado pelo tenente-coronel Alberto Almeida (na foto, vestido de mulher): “recrutas que não topavam eram perseguidos e não se estabilizavam na carreira.” O processo acabou arquivado na Justiça Militar. Cinco vezes presa por transgressão, ela foi transferida como vigia da madrugada na selva. Demitida, ela chegou a fugir para São Paulo e diz sofrer ameaças de morte ainda hoje.
Ela foi aprovada para lecionar no Colégio Militar de Brasília. Embora nunca tenha servido no Exército, passou com “excelência” nos testes de resistência, controle emocional, exposição a situações de pressão e estresse. Em 2011, transferida para o terceiro ano do ensino médio, ficou sob a chefia do coronel José Paulo Fernandes. Por causa do conteúdo sobre Karl Marx e socialismo, vieram comentários sarcásticos de que a disciplina influenciaria de forma negativa os alunos. Os livros não falavam em ditadura militar, mas em “revolução democrática de 1964”. Ela teria recebido ordem para deixar abertas as portas da sala para estar sob vigilância constante. Em abril de 2012, Fernandes acusou Luciana de sumir com o cartão de respostas de uma aluna. Em tom de histeria, culpou-a diante dos demais funcionários, sem chance para defesa. A professora entrou em pânico enquanto procurava pelo cartão. Colegas contaram que ele havia sido rasgado pelo próprio coronel.
“Ainda existe uma forte misoginia e ele a responsabilizava por tudo”, diz um professor que não quis se i dentificar. Luciana voltou ao colégio no dia seguinte (e nos próximos) chorando, sem conseguir dar aula. Seguiram-se atestados médicos de afastamento para tratamento psicológico. Um deles diz que a paciente chegou “com sintomas compatíveis com ansiedade e fobia, desencadeados após graves situações dentro de seu ambiente de trabalho, e não tinha antecedentes psiquiátricos”. Em junho, uma Luciana “apta” voltou ao colégio com ordem médica para mudança de departamento. A chefia não atendeu e o quadro dela piorou, levando a meses de afastamento. O Exército diz que a solicitação de Luciana “foi considerada e só não pôde ser efetivada pelo fato de a oficial estar afastada para tratamento”. Os documentos mostram que a recomendação médica foi obedecida em novembro, cinco meses após o atestado.“Vivemos um momento que banaliza práticas como se fossem naturais”, afirma Lis Andrea Soboll, professora de psicologia da Universidade Federal do Paraná e autora de livros sobre assédio moral, sequência de ações hostis que constrangem e ferem a dignidade. “Não é legítimo usar tortura psicológica.”